Sobre os discursos desenvolvimentistas


     Em tempos de conflitos de interesses dos mais diversos setores da sociedade por recursos naturais, tenho visto se fortalecer o discurso anti- ONGs e anti-protecionismo ambiental, que, mesmo com críticas de bases sólidas e verdadeiras ao modelo defendido por ambientalistas radicais, talvez não caiba mais para um debate saudável sobre um modelo eficaz de uso dos recursos naturais. No Amapá, por exemplo, cerca de 70% das áreas estão sob algum tipo de restrição de uso (total ou parcial), o que inviabiliza os investimentos tidos como tradicionais principalmente no setor primário (maior fonte de receita do estado). Esse “engessamento” de grande parte das áreas do Amapá, aparentemente tem sido o principal motivo do fracasso das políticas desenvolvimentistas no estado. Ou pelo menos é o que quase totalidade dos políticos e alguns intelectuais alegam.
     Discordo categoricamente dessa linha de pensamento, não porque acho que as florestas devem permanecer intactas, mas porque entendo que esse discurso serve para mascarar a incapacidade dos políticos em gerenciar o uso dos recursos naturais, homologando um sistema arcaico e degradante, tanto ambientalmente quanto socialmente. Acredito que as florestas, savanas, várzeas e outros ecossistemas devam ser exploradas de forma racional beneficiando toda a população. Também não defendo o modelo de conservação utilizado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO), ou pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (IBAMA), a falta de critérios objetivos na seleção dos fiscais e analistas ambientais, por exemplo, é responsável por grande parte das mazelas ambientais em nosso país.
     Acredito sim que o modelo de gestão das unidades de conservação por nós importado precisa ser revisto, mas temos que superar essa síndrome de “máfia verde” que nos impede de ver os aspectos positivos da criação de barreiras legais ao crescimento econômico desenfreado, auxiliando a conservação da biodiversidade. E nisso o Amapá e outros estados da Amazônia têm chance de serem pioneiros. As amplas áreas de ambientes preservados facilita e muito a obtenção de apoio internacional e nacional para iniciativas de pesquisa e empreendimentos que busquem formas adequadas de uso da natureza. Obviamente não é o caminho mais fácil, já que é diferente de tudo que costumávamos fazer para ganhar dinheiro. Será preciso diversas ações que visem produtos à longo prazo, como a capacitação de nossos governantes e outros agentes colaboradores, contratação (através de concursos) de profissionais da área, e várias outras para que algo assim funcione bem.
     Porém, manifestar toda essa injúria através de acusações que, apesar de serem suposições coerentes, não trazem melhorias para a sociedade como um todo, não tem mais serventia. Posso estar enganado, mas não é muito mais viável pensar em como podemos fazer para gerar renda mesmo sob as restrições impostas pelas rígidas leis ambientais? Talvez assim formemos críticas mais construtivas sobre o processo e assim consigamos mudar as aberrações que existem em nossa legislação e na maneira que as coisas vem sendo feitas.
 
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